Mensagem às Comunidades Negras do Brasil

Em nome da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desejo saudar, com muita alegria, as Comunidades Negras que a partir de 1978 festejam o dia 20 de novembro, DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, por ser a data em que comemoram Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra contra a escravidão. Consciência Negra é a história de um povo que foi oprimido, mas lutou e sobreviveu. É a consciência de um povo que continua lutando para superar todo tipo de preconceito e discriminação.

Não se pode pensar a história e o futuro do País sem a presença dos caríssimos irmãos e irmãs afro-descendentes. E há motivos de sobra para vibrar e viver a esperança num futuro de paz: movimentos negros, agentes de pastoral negros, cursos, encontros, articulação de padres, bispos e diáconos negros, aumento de vocações negras. Na Igreja a Pastoral Afro-brasileira é acolhida em suas estruturas de serviço, tendo recebido um novo alento através do subsídio intitulado “A Pastoral Afro-Brasileira”, e publicado na Coleção “Estudos da CNBB”, sob o nº 85. Esse espaço conquistado pelos Afro-brasileiros enriquece o catolicismo com sua forma de expressar a sua fé nas manifestações da religiosidade popular e nas celebrações litúrgicas. Assim, o povo negro ressuscita sua memória histórica, sua auto-estima, sua cultura, enfim, sua identidade.

Quero, igualmente, manifestar a alegria:

  • pelos 20 anos da Campanha da Fraternidade, que em 1988, foi um marco que ajudou a Igreja Católica a não só a tomar consciência, mas a implementar a Pastoral Afro-brasileira;
  • pelos 20 anos do Instituto Mariama, que congrega presbíteros, bispos e diáconos negros e solidários à causa;
  • pelos 20 anos dos Agentes de Pastoral Negros, em que leigos, presbíteros e consagrados vêm realizando um trabalho importante na sociedade e na Igreja;
  • pelo desafio de celebrarmos os 120 da Abolição da Escravatura.

Essas marcas jubilares, as conquistas, significam que ainda temos muito caminho pela frente.

Exortamos todo o Povo de Deus a colocar-se a serviço da vida e da esperança, “acolher, com abertura de espírito, as justas reivindicações de movimentos – indígenas, da consciência negra, das mulheres e outros – (…) e empenhar-se na defesa das diferenças culturais, com especial atenção às populações afro-brasileiras e indígenas” (CNBB, Doc. 65, nº 59).

É a comunidade negra que está em festa e, nessa celebração, indagamos sobre as formas de enfrentar a mancha do racismo e do preconceito. Este é um momento privilegiado de reflexão e, sobretudo, de mudança de atitude! ”A tradição cultural afro-religiosa tem na comunidade a expressão maior de sua vivência. Trabalhos, festas, atividades religiosas, tudo está relacionado com a participação da comunidade. Deus se manifesta nas expressões comunitárias” (Versão popular do Estudo da CNBB 85, n. º 33).

“A população afro-brasileira é herdeira de uma profunda tradição de fé” (idem, nº 31). Iniciando a comemoração do 20 de novembro, foi celebrada em Aparecida, a XI Romaria das Comunidades Negras, acentuando “suas origens culturais marcadamente religiosas” (ibidem).

Celebremos juntos com os/as afro-brasileiros/as, unidos/as a todas as entidades negras, às ações positivas e à caminhada das comunidades negras do Brasil. Celebremos sua história de cruz, de morte, de perseguição, de discriminações, mas também história de vida, de ressurreição.

Na ternura da Mãe Aparecida, Mãe Negra, sem preconceito ou preferência, celebremos a vida frente aos desafios da inculturação e da inserção social. Em Maria, encontramos a acolhida, a misericórdia, a ternura, o serviço, a simplicidade, a atenção, o amor. Ela é o modelo ideal de um/a discípulo/a de Cristo.

Fraternalmente,

Brasília-DF, 20 de novembro de 2007

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

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