A morte da Ir. Dorothy foi um crime anunciado.
A carta denúncia de 21 de julho de 2004, de Dom Erwin Krautler, bispo da Prelazia do Xingu (PA), havia, rapidamente, ocupado espaços nos mais diversos setores da comunicação, chegando ao conhecimento não só das autoridades, como de muitos brasileiros.
A carta releva a região como a última fronteira do Pará em que problemas de todo tipo se concentram, descrevendo a atuação de pistoleiros a mando de ambiciosos grileiros e usurpadores de terras indígenas ou pertencentes à União, assassinatos no campo e na cidade, trabalho escravo ou super-explorado, roubos e assaltos à plena luz do dia, execuções de pessoas “non gratas” em praça pública por motoqueiros protegidos de capacetes fumê, prefeito encomendando a morte de vereador que não reza por sua cartilha, e mais outros crimes, na maioria impunes, fazendo a região parecer uma terra sem lei.
Entre os delitos enumera-se a ocupação desordenada da terra (grilagem), desmatamento ilegal, exploração ilegal de madeira, trabalho escravo, tráfico de drogas.
No dia 19 de agosto de 2004, durante a celebração dos 50 anos da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB Nacional, a CRB do Regional N2 concentrou grande número de religiosos e de religiosas, oportunidade em que, Ir. Dorothy denunciou a gravidade da situação da região e comunicou a todos as ameaças de morte que sofria, pelo trabalho em defesa dos pequenos, diante da quase total ausência do Estado, recebendo a solidariedade de todos os presentes.
Recebemos com indignação a notícia do assassinato criminoso da Ir. Dorthy Stang, no dia 12/02/05, missionária de Notre Dame e, com elas e todo o povo do Pará, pedimos uma posição dos governos, para que a realidade crônica no Brasil de corrupção e impunidade, sobretudo na Amazônia, seja revertida.
Apresentamos a nossa solidariedade às Irmãs de Notre Dame de Namur no Brasil, ao Episcopado do Regional Norte 2, à CPT Nacional, à Prelazia do Xingu e à toda população da região da Transamazônica, rogando a Deus, justiça e paz para todos.
Brasília, 14 de fevereiro de 2005.
Dom Jayme Henrique Chemello
Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia