O processo de amadurecimento na fé

Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul

 

Caros diocesanos. Hoje vos saudamos como Jesus saudou os discípulos, após a ressurreição: “A Paz esteja convosco”! Em nossa vida cristã, certamente já nos damos conta que o processo de amadurecimento na fé é lento, mas pode e deve ser progressivo. Com os primeiros seguidores de Jesus não foi muito diferente. Os apóstolos e outros discípulos e discípulas, desiludidos com a paixão e morte do Senhor, estavam frustrados em sua esperança messiânica triunfalista: “Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel… Então ele lhes disse: ‘como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória’” (Lc 24, 21.25-26). Vemos que nem tudo se resolveu imediatamente com um romper mágico do túmulo ou com o anúncio das mulheres, dizendo que o Senhor não estava na sepultura: “Contaram estas coisas aos apóstolos, mas estes acharam tudo isso um delírio e não acreditaram. Pedro, no entanto, levantou-se e correu ao túmulo. Olhou para dentro e viu apenas os lençóis. Então voltou para casa, admirado com o que havia acontecido” (Lc 24, 11-12). Os discípulos tiveram que passar por um longo processo de amadurecimento na fé da ressurreição. Para tal, é importante analisar a figura de Tomé, um dos doze: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20, 25). Só mais adiante surge o ato de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).

O evangelista São João relata com três verbos – entrar, ver, crer – esse processo de crescimento na fé, ao narrar sua ida, junto com Pedro, à sepultura do Senhor: “O outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, também entrou, viu e acreditou” (Jo 20, 8). Sim, o Apóstolo que Jesus amava também entrou no verdadeiro mistério da morte e ressurreição (Páscoa), contemplou-o em sua profundidade e chegou à graça da atitude da fé. Antes, “eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9). A aparição a Maria Madalena revela situação idêntica. No texto grego o autor usa três termos diferentes para o verbo “ver”: olhar, contemplar, crer. Inicialmente, significa o simples ato de olhar; depois, tem o sentido de olhar atentamente (contemplar) e só no final recebe o significado de crer: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20, 18). Enquanto os discípulos não chegaram ao ato de fé, Jesus continuou confundido com simples jardineiro (cf. Jo 20, 15) ou como único peregrino de Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu (cf. Lc 24, 18) ou ainda como visão de um espírito (cf. Lc 24, 37). Os olhos da fé dos discípulos estavam ofuscados, tinham dificuldades em ver além do Jesus Nazareno, que fora crucificado. Somente aos poucos conseguem reconhecer nele o Senhor, o Messias, o Mestre. Todos queriam sinais extraordinários para crer (cf. Mt 12, 38-40).

Esse amadurecimento na fé repete-se na história com os apóstolos de todos os tempos. O processo de conversão é lento e exige perseverança. A vida dos santos e das santas nos ensina isso. Agora chegou nossa vez de fazermos a experiência pascal em nossa vida, em nosso tempo para seremos também suas testemunhas (Lc 24, 48; Jo 20, 18). Que as celebrações do Tempo pascal nos ajudem no amadurecimento da fé cristã.

 

 

 

 

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