Francisco fala da realidade migratória em tradicional encontro com embaixadores
O papa Francisco recebeu, nesta segunda-feira, 11, os membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé para as felicitações de Ano Novo. A audiência ocorreu na Sala Regia do Palácio Apostólico Vaticano. O evento é considerado uma das audiências de maior abrangência diplomática, política e social do ano.
Francisco ressaltou em seu discurso os sinais positivos que caracterizaram 2015 para a Santa Sé, como os inúmeros acordos internacionais ratificados, que demonstram “que a convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível”.
O pontífice destacou as convenções específicas em matéria de tributação assinadas com a Itália e os Estados Unidos da América, “que demonstram o crescente empenho da Santa Sé em prol de uma maior transparência nas questões econômicas” e os acordos de “carácter geral”, visando regular aspectos essenciais da vida e da atividade da Igreja nos diferentes países, como o assinado em Díli com a República Democrática de Timor-Leste.
Migrantes
O papa alertou os embaixadores sobre o “espírito individualista” que é terreno fértil para “medrar aquele sentido de indiferença para com o próximo”. Neste sentido de indiferença, recordou-lhes a imagem dos últimos da sociedade, dos quais ressaltou os migrantes, “com o peso de dificuldades e tribulações que enfrentam diariamente à procura, por vezes desesperada, de um lugar onde viver em paz e com dignidade”.
Francisco, propôs a reflexão sobre “a grave emergência migratória que temos estado a enfrentar, para discernir as suas causas, projetar soluções, vencer o medo que inevitavelmente acompanha um fenômeno assim grande e impressionante que, durante o ano de 2015, interessou sobretudo a Europa, mas também várias regiões da Ásia e o Norte e Centro da América”, frisou.
Falando do grito de Raquel ou da voz de Jacó, o Papa comentou as razões que levam à fuga milhões de pessoas: conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas. Razões estas que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos poderosos”, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.
“Onde é impossível uma migração regular, denuncia o Papa, os migrantes vêem-se muitas vezes forçados a se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de seres humanos”. As dramáticas imagens das crianças mortas no mar testemunham “os horrores que sempre acompanham guerras e violências”.
Francisco explicou que a Santa Sé espera que a I Cimeira Humanitária Mundial, convocada pelas Nações Unidas para o mês de maio, possa ter sucesso “na sua pretensão de colocar a pessoa humana e a sua dignidade no coração de cada resposta humanitária”.
“É preciso um compromisso comum que inverta decididamente a cultura do descarte e da violação da vida humana, para que ninguém se sinta negligenciado ou esquecido nem sejam sacrificadas mais vidas pela falta de recursos e sobretudo de vontade política”, afirmou o pontífice.
Também recordando os inúmeros refugiados que chegaram à Europa, o papa desejou reiterar a convicção de que o velho continente, ajudado pelo “seu grande patrimônio cultural e religioso”, possui os instrumentos para defender a centralidade da pessoa humana e encontrar o justo equilíbrio entre os deveres, moral de tutelar os direitos dos seus cidadãos, e o de garantir a assistência e o acolhimento dos migrantes.
Francisco também manifestou gratidão a respeito das iniciativas tomadas para favorecer a recepção digna das pessoas em situação de migração.
Temáticas
Francisco falou em seu discurso sobre as viagens apostólicas, seus contextos e implicações, e sobre a necessidade da paz diante da ameaça nuclear.
Como desafios à paz, elencou as tensões no Golfo Pérsico, a ameaça nuclear norte-coreana, o terrorismo internacional, “que ceifa inumeráveis vítimas” na Síria, na Líbia, no Iraque e no Iêmen, e o interminável conflito médio-oriental.
Por fim, Francisco garantiu aos embaixadores a total colaboração da Santa Sé no âmbitol diplomático: “A Santa Sé jamais deixará de trabalhar para que a voz da paz possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco, com a íntima certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia”.
De acordo com a Rádio Vaticano, a Santa Sé mantém, no total, relações diplomáticas com 180 países.