Relatório do Cimi: dom Ricardo diz que a sociedade não pode ficar alheia à perda da dignidade humana

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou na tarde desta quarta-feira, 26 de julho, o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2022. O evento de lançamento ocorreu na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF) e contou com a presença de lideranças indígenas e representantes da CNBB e do Cimi.

Dentre os presentes estiveram dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO); Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário executivo do Cimi; Lucia Helena Rangel e Roberto Antonio Liebgott, organizadores do relatório; Erilsa Pataxó, a vice-cacica da Terra Indígena (TI) Barra Velha (BA); Josiel Kaiowá, liderança Guarani kaiowá (MS); e Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana (RR).

Ao acolher os presentes, o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, disse que o momento era muito importante e que o acesso às informações do relatório dava segurança e interpela a todos para uma ação concreta.

“Os números em si não podem ser somente dados, eles têm que nos levar a respostas, ações positivas e propositivas”, disse.

Na sequência, dom Ricardo fez uma menção ao dia de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus, celebrado nesta quarta-feira, 26 de julho. “A imagem do avô, da avó entre os povos indígenas é do sábio. Do homem e da mulher que experimenta a vida e ensina a sua tribo com a experiência que tem, por isso temos a importância de resgatar esses valores; e esse relatório vai muito mais além do que simplesmente a reivindicação das políticas públicas necessárias”, disse.

Dom Ricardo salientou que a incidência de ações violentas contra a pessoa indígena assusta muito. “Os números em relação aos assassinatos, aos suicídios e a mortalidade infantil é algo que não tem como nós ficarmos alheios a esta situação de perda da dignidade da pessoa humana”, disse.

“Quando o respeito termina, a sociedade está caindo. É o respeito que nos mantém. Nós somos capazes de compreender que somos filhos e filhas do mesmo Deus criador e se não tivermos isso em conta, vamos nos tratar como coisas e não como pessoas, portanto, fica aqui a nossa saudação, o nosso acolhimento e a disposição sempre desta Conferência para apoiar, trabalhar e, acima de tudo, se comprometer com tudo aquilo que leve a respeitar a dignidade humana e especialmente os povos indígenas”, afirmou dom Ricardo.

Nesta edição de lançamento do relatório, o Cimi realizou também uma homenagem a três pessoas que dedicaram suas vidas a defender a causa indígena: o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico dom Phillips, assassinados na terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. E também o pesquisador Marcelo Zelic, falecido no dia 8 de maio deste ano, que dedicou sua vida à preservação da memória, através do trabalho de documentação, e à luta pela criação de mecanismos de não repetição das violações de direitos humanos contra os povos indígenas.  Zelic deixou um texto inédito, publicado no capítulo 5 do relatório, dedicado à reflexão sobre o tema da Memória e Justiça.  

O relatório

O Relatório, organizado em três capítulos e 19 categorias de análise, apresenta um retrato das diversas violências e violações praticadas contra os povos indígenas em todo o país. Para a produção do documento foram sistematizados dados obtidos através de informações dos regionais do Cimi, de comunidades indígenas e de veículos de comunicação, além de fontes públicas oriundas da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e de secretarias estaduais de saúde.

O levantamento reúne dados sobre violações contra os direitos territoriais indígenas, como conflitos, invasões e danos aos territórios; violências contra a pessoa, como assassinatos e ameaças; e violações por omissão do poder público, como desassistência nas áreas da saúde e da educação, mortalidade na infância e suicídios.

Esta edição do relatório sistematizou também dados atualizados sobre assassinatos, suicídios e mortalidade na infância referentes a esse período de quatro anos.

Dados

O relatório aponta, dentre tantos outros dados, que entre os anos de 2019 e 2022 os Estados com o maior número de casos de suicídios são Amazonas (208), Roraima (57), Mato Grosso do Sul (131).

Com relação ao número de assassinatos, os Estados com o maior número de casos são Amazonas (163), Roraima (208) e Mato Grosso do Sul (146).

Já mortalidade na infância foram registrados 1014 casos no Amazonas, 607 em Roraima e 487 no Mato Grosso.

Acesse o relatório (aqui).

 

 

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