Obra indicada:
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MARGUERAT, Daniel (Org.). Novo Testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2009. 23x16cm. 654p. ISBN 978-85-15-03627-1
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Autor (breve apresentação) : Professor da faculdade de teologia protestante de Lausanne (Suiça), com uma equipe composta de professores católicos e protestantes, |
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Sinopse: Esta obra apresenta uma visão global, o meio histórico de produção, as fontes e tradições, a composição literária, os principais temas teológicas, eventualmente a história dos efeitos e as perspectivas novas em torno de cada livro do Novo Testamento. A obra não visa tanto à exaustividade quanto ao método. Trata-se não de uma enciclopédia, mas de um manual. A primeira parte trata dos evangelhos sinópticos e dos Atos dos Apóstolos. No primeiro capítulo, D. Marguerat expõe a questão sinóptica, sugerindo como opção preferencial a teoria das “duas fontes” (Mc e Q). Valiosa é também seu tratamento da narratividade, “indício da encarnação” (p. 39). Conclui que “o evangelho nasce de um programa teológico sem igual: manifestar a identidade do Crucificado e do Ressuscitado, a identidade do homem de Nazaré e do Senhor vivo” (p. 41). A narração está em função da intenção querigmática: a vida do galileu cercado dos seus discípulos “contada como o momento decisivo da história do mundo” (ibid.). No capítulo 2, Corina Combet-Galland, apresenta Mc. Falando do gênero literário, aprofunda o termo “evangelho”, anúncio que se encarna na vida de Jesus (p. 46). “A vida e a morte de Jesus contadas […] adquirem valor de relato fundador” (p. 47). Inclina-se para uma datação antes do ano 70. Igualmente valiosas são as introduções a Mateus (cap. 3, E. Cuvillier) e a Lucas-Atos (caps. 4 e 5, D. Marguerat), que completam a primeira parte da obra. A segunda parte é dedicada primeiramente à literatura paulina, tratada em quatro subseções: a literatura paulina (cronologia, corpus paulinum), as epístolas propriamente paulinas (Rm, 1-2Cor, Gl, Fl, 1Ts, Fm), as deuteropaulinas (Cl, Ef, 2Ts), as pastorais (1-2Tm, Tt), e Hebreus. Falando do corpus paulinum, François Vouga dedica peculiar atenção à constituição do cânon e ao gênero epistolar das cartas paulinas. A carta aos Romanos recebe uma atenção especial, e competente. Tratando a “intenção teológica”, F. Vouga explica a questão do conhecimento natural de Deus em a ligação com o estoicismo e sua visão do mundo e da sociedade (p. 222-224), mas o peso está naturalmente na “revelação da justiça de Deus” (p. 224-230). O autor explica bem a relação Lei/fé, com uma interessante ressalva quanta à interpretação luterana da Lei como “mérito” (p. 227). A 1Cor é tratada com a mesma competência. Tratando da teologia, observa que “a loucura da pregação da cruz funda o mesmo universalismo que a justificação pela fé” (p. 252). Vale também, sobretudo para nosso ambiente, a interpretação “cristônoma” da liberdade (p. 252-253). É percebida a relação entre a proclamação apocalíptica e o tema da criação em 1Cor 15, em torno da ressurreição (p. 253-255). Nas páginas consagradas a Gálatas destaca-se “a Lei na epístola aos Gálatas” (p. 291-292). Tratando de Filipenses, Vouga parece apoiar a leitura da carta como unidade (p. 303). As cartas deuteropaulinas são tratadas por Andreas Dettwiler. Valoriza o caráter muito paulino de Cl, chamando-a “a segunda presença de Paulo após a morte do apóstolo” (segundo H. D. Betz; p. 339). Dedica atenção ao problema complexo da “filosofia” colossense (p. 347), pano de fundo para compreender a cristologia. Se Cl é pós-paulino, muito mais Ef, que se inspirou daquela (p. 357). Diferentemente de Cl, o pano de fundo parece ser a gnose (p. 368), mas não só. O tema teológico central é a Igreja (p. 370). Yann Redalié trata as cartas pastorais sub capite uno. A carta aos Hebreus é introduzida por F. Vouga, dando indicações básicas para temas como Melquisedec, o sumo sacerdócio escatológico e a metáfora do Templo. Na parte III, “a tradição joanina”, o evangelho e as cartas ficaram por conta de Jean Zumstein. Na questão do evangelho joanino e os sinópticos, acentua as diferenças, apesar do gênero literário comum. Quanto à estrutura, propõe a divisão em o livro dos sinais (Jo 1—12, admitindo a inversão dos caps. 4 e 5) e o livro da glória (Jo 13—20), contando o cap. 21 como apêndice. Aponta também os indícios do complexo processo de composição e o pano de fundo múltiplo, excluindo-se porém uma origem gnóstica. Ressalta a cristologia da encarnação e do enviado. Na 1Jo, Zumstein reconhece um processo de composição a partir de temas diversos da escola joanina, porém unitário (p. 475-476). O contexto histórico não é o mesmo que o do evangelho; enquanto este se defronta com a questão da sinagoga, o da carta — posterior ao evangelho — é o da crise interna na igreja joanina, talvez no contexto de um emergente gnosticismo (p. 482-483). O Apocalipse é tratado por Élian Cuvellier. Divide o Ap em três partes: as cartas às igrejas (Ap 1—3) e duas séries de visões (4—11 e 12—22). Com razão ressalta a Wirkungsgeschichte (história dos efeitos) como campo importante na pesquisa em torno do Ap (p. 511). A quarta parte apresenta as epístolas católicas (menos as joaninas). A carta de Tiago é tratada por F. Vouga, cujo amplo comentário de 1984 já foi publicado pela Ed. Loyola (A Carta de Tiago, 1996). Como temas teológicos aborda a questão de fé e obras em Tiago e Paulo e o cristianismo dos pobres. As epístolas de Pedro e de Judas são tratadas por Jacques Schlosser, que também compara devidamente a 2Pd com Jd. A quinta parte, a “história do cânon”, é elaborada por Jean-Daniel Kaestli. O tratamento é muito equilibrada. Valoriza o peso relativo do documento de Muratori e dos testemunhos de Papias, bem como a questão de Marcião. A última parte é da mão de Roselyne Dupont-Roc e trata de maneira clara e competente da crítica textual, o que certamente será uma boa ajuda para explicar aos alunos esta questão aparentemente “inútil para a santidade”, mas fundamental para o estudo! No fim há um glossário e um índice de nomes e termos. A bibliografia, bastante internacional, atualizada na 3ªa ed. francesa de 2004 (p. 12), foi retomada tal qual, sem complementação brasileira ou latino-americana. |
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Partes principais da obra: Prefácio Parte 1:A tradição sinótica e os Atos dos Apóstolos Parte 2: A literatura paulina 2.1: As epístolas de Paulo 2.2: As epístolas deuteropaulinas 2.3: As epístolas pastorais 2.4: Hebreus Parte 3: A tradição joanina Parte 4: As epístolas católicas Parte 5: A história do cânon Parte 6: A crítica textual Glossário Indice de nomes e temas |
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Por que essa obra é referencial ou relevante (justificar): As últimas obras congêneres são a obra clássica de W.G. Kümmel (Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982) e a introdução mais recente de R.E. Brown (Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004). Uma obra mais recente fazia falta, sobretudo por ser escrita na óptica da narratividade e da retórica, e não tanto na óptica literário-histórica, embora esta também seja devidamente contemplada. Também o caráter ecumênico é louvável. |
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Responsável pelas informações (nome/ diocese/ instituição em que atua): Pe. Johan Konings SJ – FAJE- Arquidiocese de Belo Horizonte MG |