CFE 2021: Casa da Reconciliação, em SP, é um centro irradiador de diálogo e amizade social entre diferentes religiões

O cônego José Bizon, especialista em ecumenismo, diretor da Casa da Reconciliação, em SP. Foto: arquivo pessoal.

O cônego José Bizon (na foto ao lado), padre da arquidiocese de São Paulo e segundo vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), falou ao portal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre a experiência da Casa da Reconciliação, trabalho do qual é diretor. 

O espaço, inspirado pelo Concílio Vaticano II e pelo carisma dos Frades Franciscanos da Reconciliação, busca, desde a sua origem, promover o ecumenismo entre as Igrejas Cristãs e o diálogo inter-religioso entre diferentes religiões e credos.

Ele conta que o monsenhor Heládio Correia Laurini, padre da arquidiocese de SP, iniciou logo após o Concílio Vaticano II, a Comissão de Ecumenismo da Arquidiocese de SP (CEA).  No início da década de 80 surgiu, em São Paulo, a Casa da Reconciliação, a partir do trabalho dos Frades Franciscanos da Reconciliação, congregação fundada nos Estados Unidos da América (EUA), com o carisma de criar laços de fraternidade e unidade entre os diferentes credos.

Com a volta dos Frades aos EUA, em 1994, a Casa foi doada para o trabalho de ação ecumênica e inter-religiosa da Igreja no Brasil. O cardeal Paulo Evaristo Arns, grande incentivador do ecumenismo, foi quem mediou a doação da casa à CNBB. A administração do espaço, desde então, é de responsabilidade da arquidiocese de SP.

Amizade social entre diferentes igrejas

De acordo com o diretor da Casa da Reconciliação, desde o início dos trabalho, surgiram a Comissão de Diálogo Inter-religioso Católico-Judaico (DCJ) e o Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs (Mofic) que conta com a participação das igrejas Católica, Presbiteriana Unida, Luterana, Anglicana, Ortodoxa, Ortodoxa Grega e Armênia. Estes grupos, segundo ele, permanecem até hoje. Com a pandemia, ele conta que foi necessário realizar de forma virtual muitas atividades que aconteciam presencialmente.

O cônego José Bizon explica que vários grupos nasceram desde o início da casa. Uns existem até hoje e outros surgiram, cumpriram seus objetivos, e se encerraram. Uma deles foi o grupo Fraternidade Ecumênica (FE) que surgiu a partir da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2000. Funcionou como uma espécie de pastoral da escuta composta por assistentes sociais, advogados e terapeutas que acolheu e aconselhou as pessoas que procuraram o espaço.

Por ocasião dos 40 anos da Declaração Nostra Aetate, fruto do Concílio Vaticano II, promulgada pelo Papa Paulo VI, a Casa da Reconciliação organizou no Teatro Municipal de SP, um evento com a presença do cardeal alemão Walter Kasper, à época presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e da Comissão do Diálogo Católico Judaico, na Santa Sé. Quando a mesma declaração completou 50 anos também foram realizadas ações culturais (apresentação musical no Teatro Tuca, celebração inter-religiosa e uma atividade acadêmica na PUC SP). A Casa também promoveu um seminário com várias oficinas por ocasião dos 500 anos da Reforma Protestante.

Experiências e frutos

O cônego conta que um trabalho interessante que nasceu a partir da Casa da Reconciliação foi a organização da Equipe de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do regional Sul 1 da CNBB, que já conta com a realização de 25 encontros estaduais. O padre falou também do grupo chamado Coalisão Inter-Fé que trabalha a Espiritualidade e Saúde. É composto por médicos e pessoas ligadas à area saúde de diferentes religiões que se encontram uma vez por mês, refletem e organizam seminários para pensar as conexões entre espiritualidade, a saúde e fé. A ideia é lançar uma pós-graduação a partir deste trabalho.

Outra experiência marcante de ecumenismo, segundo recorda o diretor da Casa, foram três seminários realizados pela Pastoral Urbana numa perspectiva ecumênica. Um grupo de professores, alunos e membros de diferentes faculdades PUC SP, Prebisteriana e Metodista e igrejas cristãs se reuniram na Casa da Reconciliação e foram, de ônibus, visitar vários lugares (a Casa Vida, com crianças contaminadas por HIV, uma casa de idosos, dos Evangélicos, pontos de cultura e tradições nordestinas e um trabalho com a população de rua). “No dia seguinte, sistematizamos uma reflexão a partir do que vimos nas diferentes realidades e produzimos um vídeo”, disse.

Um projeto no campo do diálogo Inter-Religioso é o Grupo Família Abraâmica. Desde 2016, o grupo de cerca de 50 famílias católicas, judaicas e muçulmanas, se encontra regularmente uma vez por mês para refletir, rezar e partilhar os sofrimentos, alegrias e esperanças na compreensão um do outro e da sua realidade. Os temas são previamente escolhidos pelos participantes. Já refletiram sobre a caridade, a vida após a morte, o fundamentalismo e a espiritualidade. Além dos encontros mensais, os casais se encontram também em pequenos grupos em torno da mesa da refeição para partilhar, orar e celebrar a fraternidade.

Encontro mensal da Família Abraâmica. Foto: arquivo Casa da Reconciliação.

Desafios atuais

Sobre as recentes polêmicas em torno do texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica, o padre, que também é coordenador da Equipe de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do Regional Sul 1 da CNBB, mestre em Ecumenismo e autor de sete livros, disse que a intolerância, o fanatismo e o fundamentalismo religioso são hoje os grandes desafios colocados à promoção da amizade social entre diferentes igrejas cristãs e credos religiosos. “Tem pessoas que acreditam estarem mais certas do que a verdade e escancaram o seu ódio nas mídias sociais”, disse.

 

 

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